A introdução de desfibrilhadores automáticos nas ambulâncias e em locais públicos de grande afluência, tais como aeroportos, estádios ou superfícies comerciais, anunciada pelo Governo Regional, levanta dúvidas do ponto de vista médico.
Luís Mendes Cabral, médico com experiência de trabalho no INEM, explica que, numa situação de paragem cardio-respiratória, ao fim de seis minutos de utilização do desfibrilhador automático externo (DAE) é necessário proceder à administração de uma droga para que a reanimação do paciente seja um sucesso. Ora, a droga em causa só pode ser administrada por pessoal médico ou de enfermagem.
No caso dos Açores, como não existe um serviço de emergência médica pré-hospitalar (serviço prestado por médicos ou enfermeiros) - existe apenas um serviço de transporte de doentes para as unidades de saúde mais próximas do local da emergência prestado por bombeiros - "não tem qualquer utilidade difundir a utilização dos DAE se imediatamente após o seu uso não chegar uma equipa com capacidade de suporte avançado de vida", alerta o médico, em carta aberta dirigida ao presidente do Governo Regional, ao secretário regional da Saúde, ao secretário regional da Ciência, Tecnologia e Equipamentos e ao presidente da Protecção Civil dos Açores.
Por outro lado, acrescenta ainda na carta enviada, "dotar cada concelho da Região de ambulâncias equipadas com monitor de sinais vitais é um desperdício de recursos públicos, pois os bombeiros não têm a formação universitária e clínica necessária para interpretar paramentos vitais", além de que é, na sua opinião, "enganador" e "perigoso" referir que existem tripulantes de ambulância com cursos avançados de vida, pois cursos de suporte avançado de vida ou cursos avançados de trauma são cursos exclusivos para médicos e enfermeiros, porque implicam entre outras coisas a administração de medicação". Deste modo, para o médico, o investimento da Região devia ser canalizado para a criação de um sistema de emergência médica, ou seja, de um serviço de proximidade à população com a participação de médicos.
Introduzindo DAE em diversos locais não será uma medida boa por parte do governo?
Concordo que se tenha de criar um sistema de emergência pré-hospitalar avançado com médicos e enfermeiros mas, até que ponto é viável? Será que vale a pena gastar dinheiro num sistema desses?
Será que os bombeiros, não tendo "formação universitária", não são capazes de à chegada ao local, avaliar a gravidade da situação e o modo de actuação?
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