A astúcia, para dizer o mínimo, de Carlos Henrique Raposo faz jus ao sobrenome. Conhecido por Kaiser, teve uma carreira de 20 anos como jogador de futebol sem ter jogado uma partida completa.
Passou por França, México e Estados Unidos. Andou, ainda, em alguns dos mais importantes clubes brasileiros. Era descrito nos jornais como "goleador" ou "artilheiro", mas ninguém lhe lembra um golo e poucos foram os privilegiados a vê-lo jogar. "Jogos completos se fiz uns 20, 30", disse Carlos Henrique Raposo, em declarações ao site do Globo Esporte.
Forte fisicamente, com porte de futebolista, começava sempre a época em défice físico. Ganhava duas semanas, só a correr à volta do campo. Quando não dava para esticar a mentira, mentia dizendo que tinha esticado um músculo ou um tendão. "Não havia ressonância (magnética) na época", revelou.
"Era um inimigo da bola, bom na parte física. No treino, combinava com um colega para lhe acertar, porque queria ir para o departamento médico", recorda Renato Gaúcho, um dos amigos de verdade do futebolista de faz-de-conta.
"É uma óptima pessoa, um ser humano extraordinário. Mas não jogava nem cartas. O problema dele era a bola. Nunca o vi jogar em lugar algum", corrobora Ricardo Rocha, que jogou no Sporting, em 1988, e outro dos amigos de Kaiser.
Na passagem pelo Bangu, as lesões já não enganavam ninguém. Um dia, sentado no banco, foi chamado a entrar em campo. "Comecei a aquecer e vi os adeptos a insultar a equipa. Avancei a rede e fui brigar com os adeptos. Fui expulso antes de entrar em campo".
Bem relacionado, tinha entre os amigos jogadores brasileiros como Romário, Edmundo e Branco, que jogou no F. C. Porto. Numa época em que não havia televisões a transmitir jogos 24 horas por dia, aproveitava para se promover.
Quando passou pelo Botafogo, no início dos anos 90, tinha um telemóvel de brincar, que lhe servia para parecer bem sucedido e desejado por outros clubes. "Fingia que estava a falar com alguém e recusava os convites", recordou.
Quando a situação se complicava, Kaiser aproveitava a saída de um amigo e trocava de clube. "Assinava um contrato de risco, mais curto, normalmente de três meses. Mas recebia as luvas do contrato e ficava lá este período", simulando lesões, fingindo-se jogador. A táctica era conhecida por vários companheiros, que encobriam a história.
"Não me arrependo de nada. Os clubes já enganaram tantos os jogadores, alguém tinha que se vingar deles", brinca.
Kaiser podia perceber pouco de bola, mas sabia muito da vida. E mais ainda da má vida. "Quando ficávamos concentrados num hotel, chegava três dias antes, levava 10 mulheres e alugava apartamentos dois andares abaixo do andar que a equipa ia ficar. De noite ninguém fugia de concentração, a única coisa faziam era descer as escadas", admitiu.
Boas relações com a imprensa, uma dica aqui e outra ali, ajudaram Kaiser a manter-se nas notícias. Começou nas camadas jovens do Botafogo e foi contratado por uma equipa mexicana, aos 16 anos. Encerrou a carreira aos 39 anos, jogando pelo Ajaccio, clube da segunda divisão de França, onde, garante, chegou mesmo a jogar, mas não mais do que 20 minutos por partida, poucas vezes por temporada.
"Pelas oportunidades, pelas equipas que passei, se me dedicasse mais teria ido mais longe. De certa forma, me arrependo de não ter levado as coisas mais a sério", confessou.
Fonte: Diário de Notícias
Há malta que consegue coisas que nem passa pela cabeça de ninguém! lolol
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